Gim brasileiro é feito com cachaça de Pirassununga... e isso é ótimo
Você pede um gim tônica. O garçom ou barman, se for um bom profissional, vai perguntar: "Algum gim de sua preferência?". Nem lhe passa pela cabeça indagar, como ele faz no caso da vodca, se você prefere bebida importada ou nacional. Isso porque o gim brasileiro está fora de cogitação, todas as marcas disponíveis são de péssima qualidade.
Ou melhor, eram até algumas semanas atrás. Duas iniciativas, ambas de empreendedores estrangeiros e independentes entre si, acabam de elevar o status do gim brasileiro. O Arapuru eu ainda não experimentei, então vou falar do Virga, que foi lançado ontem no ótimo Guarita Bar, em São Paulo.
O que torna esse gim único, diferente de todas as outras marcas que eu conheço (mas não são tantas assim), é a base alcoólica: ele é feito com a cachaça do Engenho Pequeno, de Pirassununga. Trata-se da mesma cidade paulista que produz a Caninha 51, mas existe uma distância de anos-luz entre os dois produtos. Enquanto a 51 é um dos destilados mais vendidos no mundo, o Engenho Pequeno faz jus ao nome, com uma produção quase artesanal.
Mas, mas... Pode gim de cachaça? A lei permite?
Para responder a essa pergunta, precisamos primeiro entender o que é gim. A palavra deriva, em última análise, do latim juniperus, que significa zimbro – a baga de uma espécie de pinheiro, usada como especiaria. A plantinha aromática, portanto, tem presença obrigatória no gim.
Só que o gim não é uma bebida destilada como a vodca ou a própria cachaça. Ele está mais próximo das vodcas aromatizadas que muitas marcas vendem. Para se fabricar gim, colocam-se zimbro e outras coisas aromáticas de origem vegetal para macerar em álcool. Depois esse álcool "cheiroso" é redestilado e retificado. Normalmente se usa o álcool mais neutro em aroma que se pode encontrar – algo parecido com a vodca.
Mas não há nada de bizarro na escolha de outro tipo de bebida-base. A lei brasileira, no Decreto 6871 (assinado em 2009 pelo presidente Lula), determina somente que essa base deve ser "álcool etílico potável de origem agrícola". Ou seja, cachaça está no jogo.
E, convenhamos, o uso da cachaça foi uma sacada muito astuta do holandês Joscha Niemann, uma das cabeças por trás do Virga. O gim, filho inglês do jenever da Holanda, se tornou a bebida da moda nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Em cada lugar, os produtores buscam acrescentar algo que torne a sua mercadoria única, peculiar. Aqui, o uso da cana-de-açúcar atua em duas direções: empresta personalidade regional a uma bebida internacional e divulga uma imagem positiva da nossa cachaça no exterior. Custa, na loja online da marca, R$ 99. Não chega a ser barato, mas é um preço 25% menor do que o do Tanqueray, marca standard inglesa. Longa vida ao gim de pinga!