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Marcos Nogueira

Você está sendo enganado: 15 truques que pegam o consumidor na hora de comprar comida


Parece, mas não é. Todo mundo, alguma vez na vida, comprou gato por lebre. Na indústria e no comércio da alimentos, é comum o uso de artifícios questionáveis para escamotear do consumidor detalhes que não são exatamente vendedores. Nada fora da lei – com exceção do azeite fraudado – mas também nada que seja muito bonito e edificante. Confira, a seguir, 15 pegadinhas em que todos nós já caímos algum dia na vida.

1. O camarão limpo é o mais velho

Você não gosta de limpar camarão? Eu também não, e aposto que o peixeiro tampouco gosta. Mas comprar aquele camarão que já vem descascado, sem cabeça e limpo pode ser uma roubada. Como a cabeça do camarão começa a se soltar do corpo quando ele já não está, digamos, no auge do seu frescor, as peixarias o limpam e o embalam em bandejinhas para se livrar do estoque. E vendem o bichão bem mais caro. Compre o crustáceo inteiro e peça para o peixeiro limpar. Ou então compre o camarão limpo congelado – ele é produzido por companhias maiores que fazem todo o serviço ainda a bordo dos barcos pesqueiros.

2. O salmão é tingido

Em seu ambiente natural, o salmão tem a carne rosada (mas não laranja-gari) porque come pequenos crustáceos. O peixe confinado em fazendas marinhas no Chile recebe ração cheia de beta-caroteno, que ocorre nos tais crustáceos (porém em quantidade muito menor). Sem a ração, o peixe seria cinzento.

3. O pão integral não é integral coisa nenhuma

A lei brasileira permite rotular como "integral" pães com até 50% de farinha branca em sua composição. O que é um contrassenso, já que a palavra "integral" quer dizer completo. Leia o rótulo antes de comprar.

4. Sorvete de fruta não tem fruta

É preciso prestar muita atenção ao rótulo antes de comprar. Veja, por exemplo, a lista de ingredientes do sorvete de massa Kibon, sabor baunilha e morango light (pega no site do Pão de Açúcar, pois o site da Kibon não informa os ingredientes): água, leite em pó desnatado, gordura vegetal, inulina, soro de leite, edulcorantes sorbitol e sucralose, estabilizantes polidextrose, alginato de sódio e fosfato dissódico, emulsificante mono e diglicerídeos de ácidos graxos, aromatizantes, corantes carmim, urucum e cúrcuma e acidulante ácido cítrico.

5. Pão de queijo quase não leva queijo

O pão de queijo que os botecos e café compram de grandes fornecedores tem 2% ou 3% de queijo. Quem afirma é o padeiro Rogério Shimura, que faz um dos melhores pães de queijo da cidade e conhece o negócio por dentro.

6. Hambúrguer de picanha é truque

Hambúrguer é carne moída. Impossível identificar se é filé, picanha, fraldinha ou acém. Você acha mesmo que os donos de restaurante vão gastar mais em picanha para essa finalidade?

7. Azeite barato é fraude

Diz que é azeite português, mas não é português nem é azeite. Os distribuidores desses produtos fraudulentos, que custam a metade do preço do azeite legítimo, volta e meia são desmascarados. É espantoso que ainda possuam licença.

8. Azeite italiano pode não ser italiano

A Itália vende muito mais azeite do que produz. O mesmo com tomates em lata, prosciutto di Parma e farinha de trigo. No caso do azeite, ele é comprado de países com produção grande e prestígio pequeno, como a Tunísia e o Chile, e embalado na Itália como se fosse italiano.

9. O azeite espanhol também

A Espanha é outra que vende mais azeite de oliva do que produz. As normas comerciais da União Europeia permitem que um país do bloco importe matéria-prima e venda o produto industrializado sem dar crédito à origem.

10. Há restaurantes que vendem azeite fraudado em frasco de azeite bom

O paladar treinado percebe na hora, mas não existe como provar sem teste de laboratório.

11. O caô do Queijo da Canastra

Muitos queijos mineiros comunzinhos são embalados e vendidos como sendo da Serra da Canastra. Eles podem até ser feitos na mesma região, porém o queijo que fez fama tem leite cru como matéria-prima. Isso precisa constar na embalagem.

12. O vinho brasileiro que fala espanhol

Quando há quebra de safra, como no ano passado, muitos vinicultores gaúchos não dão conta de atender a demanda do mercado. Para não ter prejuízo, compram vinho a granel na Argentina e no Chile e vendem com rótulo brasileiro. A lei permite. Não é necessariamente ruim, alguém pode argumentar. Concordo, mas suspeito que o produto comprado não seja o máximo (há muito vinho importado pior do que o nacional). E detesto quando não sei de onde vem aquilo que como ou bebo.

13. Tem frango na feijoada

Linguiça e paio são feitos de carne de porco, não? Depende. Os embutidos de marcas grandes como Sadia, Seara e Perdigão têm um percentual daquilo que os frigoríficos industriais chamam de "carne mecanicamente separada de ave" ou CMS. Isso ocorre porque essas empresas matam uma quantidade monstruosa de frangos todos os dias e, após remover os peitos, as coxas e outros pedaços com valor de mercado, ficam com toneladas de carcaça. Essa montanha de ossos ainda tem alguma carne. O negócio todo é jogado em enormes máquinas que fazem uma pasta cor-de-rosa com a carne residual, pele, gordura e cartilagem. A maçaroca é aproveitada em salsichas, hambúrgueres, nuggets e outros produtos cheios de sal e temperos para ficarem minimamente palatáveis. Quando você compra linguiças defumadas para feijoada dessas marcas, também compra um bocado de CMS. A embalagem não diz que esses produtos são 100% suínos, mas tampouco explicitam a presença de CMS.

14. Tem soja no hambúrguer

Os hambúrgueres dos mesmos frigoríficos, além de usar carne residual de aves, bois e porcos, são "inchados" com proteína texturizada de soja, a PTS. A lista de ingredientes do hambúrguer Sadia começa com carne bovina, beleza. O segundo ingrediente é água e o terceiro, PTS. Isso porque a PTS precisa de bastante água para encharcar, ficar macia e fazer volume no hambúrguer. Se você ainda precisava de uma razão para fazer hambúrguer em casa...

15. Tem inseto no biscoito

Na lista de ingredientes do biscoito recheado Trakinas sabor morango, não há nada que seja remotamente parecido com morango ou qualquer outra fruta. Mas tem algo muito interessante: corante natural carmim. A cor de morango é obtida a partir da cochonilha, um insetinho parente do pulgão de jardim. Uma multidão de bichinhos é triturada para se obter o corante, que é largamente utilizado pela indústria alimentícia. Não tem nada de mais, porém imagino que muita gente não deve gostar de saber da presença proposital de insetos no seu lanche – daí tanta discrição na hora de apresentar o ingrediente.

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